sexta-feira, 14 de setembro de 2012

E tu? ACREDITAS em quê?

"Tive a sorte de nascer numa família de guerreiros onde a palavra lutar e acreditar estão bem presentes. 
Tive a sorte e o prazer de ser neta da pessoa mais incrível que alguma vez tive e tirei o prazer de conhecer, a minha avó. 
Para minha sorte, ela só não me ensinou a lutar como me mostrou no seu dia-a-dia. Para minha sorte e para seu azar, porque me mostrou da forma mais cruel. 
Em pequena foi-lhe roubada a saúde e a infância. Trabalhar noite e dia, ao frio e ao calor por uma cama e um papo seco fez com que ela fosse mais frágil que as outras pessoas.
Mas muito mais forte que tantas outras. Era capaz de ultrapassar barreiras com a sua força e ultrapassar obstáculos com a sua esperança. 
Mostrou-me como lutar nos seus dias mais dolorosos, quando as dores eram mais fortes que o respirar. Mostrou-me como acreditar e aceitar a vida quando lhe era diagnosticado mais alguma coisa. Mais algum bicho. Mais algum vírus. Mais alguma ferida. Não havia descanso. 
Mostrou-me a levar a vida com um sorriso na cara, mesmo quando sorrir fosse a última coisa que se queria fazer. Mostrou-me como se vence batalhas, quando coxeava com uma infeção na perna e queria lavar a loiça, e queria fazer sempre o almoço para a mim e para a minha irmã e queria se mexer, se sentir útil, dar, dar e dar. Nunca me irei esquecer da maior prova de força. 
A última vez que a minha avó foi operada foi a uma prótese, estava bastante infetada porque, além de o serviço de saúde
português ser bastante lento, o antigo médico queria ir para a reforma, então simplesmente, preferiu ignorar a tratar. O que lhe custou a Vida, mas sem nunca antes lutar. 
Foi, finalmente,
operada à prótese, onde ficou numa cadeira de rodas sem nada na perna. Futuramente iria ser novamente operada para colocar outra prótese, se tudo corresse bem. 
Quando uma pessoa acredita e luta, consegue. 
E a minha avó conseguiu. 
Conseguiu se levantar daquela cadeira e andar. 
E que orgulho. Que prova. Que sensação. 
Tentou tantas vezes, acreditou outras tantas,caiu algumas, chorou noutras, mas pôs o pé no chão e deu passos. 
Deu passos longos. 
Esta Mulher conseguiu dar passos maior que as pernas sem cair, tudo porque o seu coração se movia de fé. Mas, usando ainda estava no hospital, começou a formar-se uma ferida nas
costas, uma espécie de buraco. 
O médico não achou relevante e mandou a minha avó para
casa, para o pé de nós. Até que, (talvez), por esse buraco tenha apanhado algo feio, muito feio, uma septicemia. 
Deixou de conseguir andar, pensávamos que era pela falta de prótese, começou a dizer coisas sem sentido, pensávamos que era dos comprimidos. 
Infelizmente pensámos de mais, não pensámos que poderia ser o sangue que não chegasse a todo o lado.
Foi levada de ambulância quando a minha mãe não conseguiu medir a tensão. 
Pouco ou nada havia a fazer, a não ser acreditar. 
Se cheguei a sentir-me culpada? Sim, ainda hoje. 
Mas sei que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, que ninguém queria que isto tivesse acontecido.
Um familiar médico foi vê-la e disse que não sabia como é que a minha avó ainda estava viva com o que tinha. 
Eu sorria, eu sabia. Ela acreditava, eu acreditava. Mas o sofrimento já era longo, de uma vida, e às vezes o melhor é mesmo parar. 
Não desistir, mas acreditar que dali vem algo melhor. 
Ela não desistiu, ela só se cansou. 
Na altura disseram-me para não ser egoísta, que a minha avó estava melhor assim, mas eu não conseguia aceitar. 
Mas a vida ensinou-me que “desistir é o mesmo que vencer sem travar as batalhas”. 
Esta Mulher venceu, sempre, mesmo quando o sabor da vitória durava pouco tempo. 
Esta Mulher chama-se Beatriz, mora no coração da minha família, e podia-se chamar Esperança. 
Eu acredito num amor maior que a vida, o meu por ti, avó."



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