quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Falar da morte às crianças

O que sabem as crianças sobre a morte?
Antigamente, as crianças estavam familiarizadas com a morte. A maioria vivia no campo e assistia com frequência ao nascimento e ao abate dos animais. Os avós, os tios, os vizinhos morriam em casa e todos participavam nas cerimónias fúnebres. Hoje, com o aumento da esperança média de vida, muitas crianças lidam com o falecimento dos bisavós e dos avós, mas já não acompanham a fase final das suas vidas. Eles moram longe, vão para o hospital e depois desaparecem... A morte, no seio da família, tornou-se distante, ausente, incómoda, um assunto sobre o qual nada se tem a dizer. Quando somos questionados pelas crianças, não conseguimos abordar o assunto ou tendemos a evitá-lo, na esperança de as manter afastadas da dor e, principalmente, das nossas dúvidas e medos.
Só que a morte está sempre presente, mesmo na infância: nos protagonistas das histórias e dos jogos que morrem (e voltam a viver), nas tragédias que a toda a hora os media transmitem, na carne que comem de um animal que foi morto. É natural que a criança sinta curiosidade sobre esta etapa, que lhe coloca o problema da separação e da não-permanência das coisas e das pessoas. É um óptimo sinal quando procura (e obtém) a ajuda dos pais para dialogar ou esclarecer as suas dúvidas.
Num certo sentido, podemos dizer que as crianças, pela sua curta idade, estão mais próximas da morte do que nós, adultos. O período temporal que as separa da «ausência física» é muito menor e a sua sensibilidade e inocência permitem-lhes aceder a um entendimento mais puro sobre a realidade da morte, sem preconceitos, dogmas ou quaisquer outras barreiras. Não sabemos ao certo o que elas sabem, mas uma coisa é certa: elas sofrem tanto ou mais do que nós com o luto e, se não tiverem o apoio de que necessitam, o peso da dor, da culpa e da revolta poderá tornar-se esmagador e prolongar-se por toda a vida.
A visão da morte modifica-se com a idade
À medida que crescem, as crianças vão tendo diferentes noções sobre a morte, de acordo com a sua capacidade de entendimento, a experiência pessoal e a educação que receberam, nomeadamente religiosa. Vários estudos indicam, em geral, a existência de 4 fases, que se sucedem no tempo, até atingirem a adolescência e a consciência da sua própria morte.
Até aos 2 anos, a morte é entendida como separação de alguém que lhe era querido (em especial, a mãe ou o pai) e como perda do conforto que sentia. O bebé reage «visceralmente» à ausência de uma figura significativa, tendo dificuldade em comer, dormir e manter os hábitos de higiene já adquiridos. Por outro lado, ele assimila facilmente o luto dos adultos e o ambiente depressivo que o envolve, mesmo que se trate do falecimento de alguém que ele não conheceu.
Entre os 3 e os 5 anos, a morte é vista como algo temporário, alterável e reversível. Não é real, é uma espécie de castigo que pode terminar a qualquer momento. A criança acredita que tem pensamentos mágicos e que os seus desejos se realizam, podendo trazer de volta o morto ou, pelo contrário, provocar a morte a alguém. É frequente sentir-se culpada pelo que aconteceu (ou por tudo o que não consegue fazer). Fica confusa com as explicações dadas e tem tendência para ligar coisas que não estão relacionadas. Recear que o morto sinta frio, fome ou que esteja zangado na campa é comum nestas idades. A criança recusa-se a aceitar a morte como o fim e é incapaz de imaginar a vida sem o pai ou a mãe. Pode ficar chocada se o familiar falecido não comparecer na sua festa de aniversário, pois, interiormente, ela continua ligada a ele.
Dos 6 aos 9 anos, a criança começa a tomar consciência de que a morte é permanente e acontece a todos os seres vivos. Mas, de alguma forma, crê que ela e os seus familiares são imunes (porque se portam bem ou porque têm várias vidas...) A morte é personificada, representada como um monstro, um papão, um encapuçado ou um fantasma, provocando medo, angústia e, frequentemente, terrores nocturnos. A criança costuma interessar-se pelas causas da morte e o processo de decomposição (que aprende na escola em relação às plantas e animais).
A partir dos 10 anos e até à adolescência, a morte é entendida como um ato final, irreversível e incontornável. É uma parte do ciclo de vida que todos teremos de enfrentar. Por vezes, é conotada como punição por mau comportamento, gerando o sentimento de culpa e medo. Há um crescente interesse pelos rituais religiosos e pelo lado espiritual da morte. A consciência da sua própria morte e o sentido da vida emergem durante a adolescência, tornando-se, à semelhança da sexualidade, segredos a desvendar.

{daqui}

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